O Xangô de Baker Street - Uma Aventura de Sherlock Holmes

Comentarios

FICHA TÉCNICA:

- Título Original: O Xangô de Baker Street.
- ISBN: 85-7164-482-9
- Autor: Jô Soares.
- Número de Páginas: 349 páginas.
- Publicação: Companhia das Letras.
- Ano: 1995.

Resenha:

O Estudo em Vermelho
Sherlock Holmes é, sem dúvida, um dos personagens mais aclamados da literatura inglesa. Acompanhado por John Watson, alter ego do próprio autor, Conan Doyle, o detetive soluciona os terríveis crimes e escândalos da Inglaterra vitoriana.

O clima enevoado e sombrio de Londres proporciona o ambiente perfeito para as aventuras do mestre das deduções, mas será que uma mudança de ares afetaria as habilidades do herói britânico? A resposta pra essa questão está em “O Xangô de Baker Street”, obra do escritor Jô Soares, também autor de “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras”, “O Homem que Matou Getúlio Vargas” e “As Esganadas”.

Os livros do apresentador global possuem uma receita bem simples. Seus protagonistas chegam a guardar semelhanças de um título para o outro, mesmo que os enredos em nada coincidam. As obras não levam o leitor a uma reflexão profunda, no entanto, tal fator não diminui a qualidade do entretenimento por elas proporcionado. Cheia de referências acerca de figuras e acontecimentos históricos, a leitura destes ocorre de forma divertida, fluida e rápida.

Conan Doyle
“O Xangô de Baker Street” não é exceção. A história se passa no Brasil Imperial, ano de 1886. O furto de um valioso instrumento, um raríssimo Stradivarius, dado à Maria Luísa Catarina de Albuquerque, a baronesa de Avaré, pelo próprio Dom Pedro II, é causa de um enorme escândalo na corte. Somando-se a esse acontecimento, um misterioso assassino vem aterrorizando os cidadãos do Rio de Janeiro. O serial killer mata mulheres na calada da noite, levando como souvenir as orelhas de suas vítimas e deixando para trás, enroladas no púbis de cada uma, uma corda de violino.

Atormentado pela falta de eficiência dos investigadores brasileiros e aceitando a sugestão da atriz francesa Sarah Bernhardt, o imperador manda chamar, diretamente do Reino Unido, o famoso Sherlock Holmes. O detetive inglês fica bastante surpreso com o telegrama do monarca brasileiro e, juntamente com um relutante Watson, parte para os trópicos buscando mais um mistério para desvendar.

Neste momento podemos notar que Jô Soares desconstrói, em parte, a criação de Doyle. Em “O Xangô”, o poder de dedução de Holmes é precário, o que parece não ser notado com freqüência pelos outros personagens. Mesmo sua habilidade com disfarces apresenta-se de forma atrapalhada e pouco eficiente. No entanto, Sherlock continua a ser um exímio musicista, além de, constantemente, tropeçar em pistas essenciais. Já em terras brasileiras, o detetive concorda em atuar, a pedido do delegado Mello Pimenta, como consultor na caça ao assassino.

Capa da 7ª edição
Em pouco tempo, chega-se a conclusão de que o responsável pelo furto do Stradivarius é o mesmo das mortes. O serial killer, termo cunhado pelo próprio Sherlock, já havia vitimado duas garotas, uma prostituta e uma camareira do palácio imperial. Ao longo da obra notamos que, para ladrão de violinos, ambas as moças são impuras e merecem a morte. Ele continuará matando até atingir seu objetivo: assassinar a mulher a quem chama de “A Grande Puta”.

A obra, além de mistérios, está repleta de situações cômicas. Um desses momentos conta como Watson criou a Caipirinha, misturando cachaça, limão e açúcar. O bom doutor também incorpora uma entidade em um terreiro de candomblé, a qual tenta seduzir seu companheiro de aventuras e só deixa o corpo do inglês ao tomar um banho de sangue de galinha. Uma terceira situação, também divertida, se dá quando o detetive prova pela primeira vez a cannabis, o cigarro de índio, oferecido pela mulata Anna Candelária.

É com relação a essa personagem que se desenrola o romance da obra. É a atriz mestiça que conquista o coração do inglês. Perdidamente apaixonado, Sherlock considera nunca mais voltar à Inglaterra, para passar o resto de seus dias ao lado de Anna. Contudo, os acontecimentos ao longo do livro, impedem que esse romance se concretize, voltando o nosso herói para Londres “com sua inexpugnável castidade”.

Imperador Dom Pedro II
Anna Candelária é uma personagem fictícia, assim como Inojozas, Miguel Solera de Lara, Salomão Calif, Marquês de Salles (quase homônimo do Marquês de Sade), entre outros. Contudo, várias personalidades ilustres da história do Brasil dão o ar de suas graças na narrativa. Estas são: A compositora Chiquinha Gonzaga, os escritores Olavo Bilac e Guimarães Passos, a atriz Sarah Bernhardt, o próprio imperador, Dom Pedro II e sua imperatriz, Teresa Cristina.

Por fim, deve-se dizer que o livro peca por ser muito curto. No momento em que o enredo está prestes a dar uma virada, o ritmo da narrativa é acelerado, terminando abruptamente. As justificativas do autor parecem forçadas e sem nexo, o que não aconteceria se a obra se estendesse por mais algumas páginas.

Mesmo assim, “O Xangô de Baker Street” cumpre o que promete, entretendo o leitor e levando-o a boas risadas.

O Autor:

Jô Soares
José Eugênio Soares nasceu no Rio de Janeiro em 1938. Estudou por curto período na Suíça, com o objetivo de seguir a carreira de diplomata, mudando de objetivo e se tornando um dos apresentadores mais respeitados da televisão brasileira.

Autor de romances como "O Astronauta Sem Regime", "Humor nos Tempos de Collor" e "A Copa que Ninguém Viu e a Que Não Queremos Lembrar", Jô Soares aspira uma cadeira na ABL.

Extras:

O "Xangô de Baker Street" ganhou uma versão para o cinema no ano de 2001. O longa metragem conta com português Joaquim de Almeida (A Balada do Pistoleiro) no papel de Sherlock Holmes, Maria Medeiros (Pulp Fiction), como Sara Bernhardt e Anthony O'Donnel (Match Point) representado o Doutor Watson.

Por Lucas Emanuel

#Compartilhar: Facebook Twitter Google+ Linkedin Technorati Digg

0 comentários:

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial